Quantidade de Espreitadelas

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

AS MAZELAS (de Rosa Lobato Faria)

Mandaram-me este texto desta grande Senhora. Creio que um dos ultimos...
Adorei, simplesmente adorei...
E, apesar de ter metade da idade desta grande Senhora, é assim que me sinto, acho que só tenho 25 anos, olho-me ao espelho e digo "não pode ser! 38??? nãããã..."... e quando chegar à idade dela, se chegar, acho que me vou sentir tal e qual como a nossa querida Rosinha...

E com isto lembro-me da minha avó paterna - a avó Custódia - que, no lar, quando se referia ás outras idosas, qualquer uma mais nova que ela, dizia "aquela velha ali..."
Aqui fica! Deliciem-se!!!






"Aos 77 anos, como é natural, aparecem-nos todas as mazelas. Insignificâncias, uma dor aqui, uma dor ali, nas costas, na perna, na cabeça, uma pequena coisa na pele, na unha, no olho.
Não ligo nenhuma.
Porque a minha pior mazela é não acreditar que tenho 77 anos.
Eu bem me farto de dizer aos quatro ventos a minha idade para ver se interiorizo esse facto,mas, por dentro, estou na casa dos trinta, vá lá quarenta, e não passo daí.
Setenta e sete anos? Que loucura!
Tenho sempre tanta coisa para fazer, para acabar, para ler, para escrever, tanto lugar para visitar. Tanto Museu para ver e depois as mazelas - aí!-, mas vou, porque tenho trinta anos e, evidentemente, tenho que ir.
Não tenho a noção de ser uma senhora velha. Digo "estava lá uma velhota", ou "imaginem que uma velha"...Estou a falar de pessoas provavelmente mais novas do que eu, mas não me enxergo.
Até quando irá durar esta idade subjectiva que não me deixa envelhecer tranquilamente.
Só quando me oferecem o braço (já caí na rua e parti a perna, mas nem assim...), quando não me dirigem galanteios(que estranho!),acordo para a realidade, aí, é verdade, tenho 77 anos, que maçada...
Ultimamente, tive (ou tenho, ainda não percebi)cancro de mama.
Como acho que Deus não me ia mandar esta doença só para me chatear, abri uma campanha de sensibilização(televisão incluida), para que as mulheres façam mamografias, Transformei a porcaria da doença numa coisa positiva.
Passei os trâmites habituais operação, radioterapia, etc. Tudo pacífico.
Ainda por cima, o médico disse-me que era pouco provável que o cancro me matasse, porque, na minha idade, as células já não são o que eram...
Aí, sim?
Tenho 77 anos, que alegria!"

1 comentário:

Se nada na nossa vida acontece por acaso... diga lá...

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